terça-feira, 21 de agosto de 2012

Acompanhando nosso caminhar teológico latino-americano

Pouco a pouco nosso continente latino-americano tem ido se posicionando como um interlocutor válido frente aos países do primeiro mundo e tem fortalecido sua identidade cultural e religiosa, deixando de se sentir receptor de tudo o que venha de fora, para oferecer suas próprias riquezas. No campo teológico, isso tem sido claro na chamada teologia latino-americana que, partindo do método ver-julgar-agir, produziu uma teologia capaz de assumir a realidade da pobreza e da exclusão que tem marcado tanto a vida do continente e tem ido além, assumindo os novos desafios que se percebem, tais como a questão ecológica, a questão indígena, a realidade da mulher, a realidade afro-americana, o pluralismo cultural e religioso, etc. Vale a pena recordar a valoração que a 5ª Conferência do Episcopado latino-americano e caribenho deu a tal método pastoral, afirmando ele "que tem colaborado para viver mais intensamente nossa vocação e missão na Igreja, que tem enriquecido o trabalho teológico e pastoral e que, em geral, tem motivado a assumir nossas responsabilidades ante as situações concretas de nosso continente" (DA 19).
É por isso que a celebração, em outubro, do Congresso Continental de Teologia em São Leopoldo, é motivo de gozo e esperança. Com este congresso procura-se comemorar os 50 anos da inauguração do Vaticano II e os 40 anos da publicação do livro Teologia da Libertação. Perspectivas, de Gustavo Gutierrez. Ambos os acontecimentos permitem entender o surgimento e o desenvolvimento da reflexão teológica latino-americana, resultado de um sincero compromisso com a colocação em prática do Vaticano II no continente.
Como preparação ao congresso, foram realizadas, durante 2011, quatro Jornadas teológicas regionais que reuniram os diversos países: na Guatemala (América Central e Caribe), no Chile (Cone Sul e Brasil), no México (Estados Unidos e México) e em Bogotá (países andinos). A partir desses encontros, a iniciativa do congresso pretende ser a de um congresso prospectivo "que mobilize a comunidade teológica para enfrentar os desafios que a emergência do novo paradigma civilizatório, as profundas mudanças culturais, os diversos movimentos sociais e as inovações científicas levantam para a teologia, como serviço às igrejas e à humanidade num mundo globalizado e excludente" (cf. Carta Convocatória do congresso).
Será um congresso católico, com abertura ecumênica, dirigido a teólogos e teólogas de caráter popular, pastoral e acadêmico, e a todos aqueles que se sentem comprometidos com o caminhar social e eclesial. Sua metodologia incluirá conferências, oficinas de participação temática, painéis abertos e cinefóruns. Temas como economia, novos movimentos sociais, sujeitos emergentes, espiritualidade, opção pelos pobres, método teológico, novos paradigmas, migrações, direitos humanos, questões de gênero, entre muitos outros, serão analisados e refletidos a partir da fé, para se avançar num discurso teológico significativo e atual para a realidade que nos desafia.
Assistirão a este congresso muitos teólogos e teólogas da primeira hora, como também muitos outros/as das novas gerações. Em todos existe essa fé inquebrantável no evangelho de Jesus, esse evangelho lido a partir dos pobres, do sofrimento dos últimos, dos excluídos e marginalizados, a partir dos desafios e questionamentos atuais que urgem crer em "outro mundo possível", organizado, não a partir do poder e do ter, mas a partir do serviço e do compartilhar. Será um espaço para renovar a força do pequeno e do frágil e a capacidade de transformação da palavra de Deus com a boa nova de libertação que encerra. Será um congresso no qual a esperança se avivará e o amor estará presente porque, por trás da reflexão teológica, está a vida e o compromisso de muitas pessoas que chegaram até o martírio por defenderem os mais pobres e por comprometerem sua vida com a defesa de seus mais elementares direitos. Esse congresso continental, que desde já vale a pena acompanhar com oração e disposição de fazê-lo possível, afirma, uma vez mais, o Deus da Vida, esse Deus comprometido com os mais pobres e pequenos, o Deus que nos salva a partir deles e com eles.

 Por Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

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