O mercado não faz política. Quem faz política é o governo. O mercado aproveita as oportunidades que a política oferece.
Os políticos, por sua vez, procuram estar
sintonizados com o que a sociedade espera dela. Mercado, políticos e
sociedade dependem de informações para fazerem escolhas e tomarem
decisões, e é aí que a imprensa deve ser capaz de cumprir com seu papel
social de informar e esclarecer ao publico sobre fatos e tendências.
Quando se fala em política, é preciso lembrar sobre a importância não só
do Poder Executivo, mas principalmente dos Parlamentos, na elaboração
das leis e no Judiciário, na fiscalização destas leis.
É no Congresso Nacional, nas Assembléias Legislativas Estaduais, nas Câmaras de Vereadores que as leis são feitas.
Elas resultam quase sempre de um amplo debate
democrático onde forcas e interesses antagônicos se confrontam até que
surja o consenso sobre o que é possível, como está ocorrendo agora com o
Código Florestal, como aconteceu com a Lei Nacional de Resíduos Sólidos
que demorou vinte anos para ser aprovada. Não é verdade que o mercado
prefira uma economia suja em vez da limpa. Para o mercado, o que importa
é atender às demandas da sociedade, obedecendo ao que as leis
determinam e aproveitando dos benefícios e incentivos que oferece. Neste
sentido, o mercado mantém um olho no público e em suas tendências, e
outro nas leis que estabelecem políticas e incentivos. Quanto mais bem
sucedido o empresário for a interpretar a vontade do consumidor e
aproveitar dos benefícios que as leis e as políticas oferecem, maiores
as chances de ser bem sucedido nos negócios.
E hoje, o negocio é ser limpo e sustentável. A
economia suja, de uso intensivo em recursos naturais, de grande pegada
carbônica, poluidora e desperdiçadora, terá cada vez mais dificuldade
para prosperar.
Quem precisa aprovar novos empreendimentos que causarão grandes danos ao meio ambiente ja se apercebeu dessa nova realidade.
A sociedade continua demandando por progresso e
desenvolvimento, mas não aceita mais que isso se de em desrespeito ao
meio ambiente ou de qualquer jeito. A chamada economia 'verde' já aponta
como fonte de lucros e oportunidades.
O Governo Federal, por exemplo, tem lançado edital
para a compra de energia eólica ou solar ou de biomassa. Trata-se
oportunidade de novos negócios e empregos onde antes a produção de
energia suja dominava.
Antes, os investimentos em meio ambiente e sustentabilidade eram divulgados timidamente em mídias ambientais especializadas.
Hoje, estão ganhando as paginas das mídias de massa,
demonstrando para o grande publico os avanços e resultados no campo da
sustentabilidade.
Não se trata de um marketing mentiroso apenas para enganar o publico. Essa época já passou.
Agora a sustentabilidade ganha cada vez mais o
coração e as mentes do publico em geral deixando os pequenos círculos de
iniciados em meio ambiente.
Por outro lado, se é verdade que muito já vem sendo
feito no rumo da sustentabilidade, também é verdade que as forcas do
atraso e do progresso a qualquer preço ainda dão as cartas e dominam.
Veja a situação do lixo, atribuição dos municípios. Ao lado de
experiências modelos de aterros bem gerenciados que aproveitam inclusive
o metano como energia, ainda convivemos com milhares de lixões e
'enterros' sanitários revelando um enorme nicho de oportunidade de
negócios para o mercado que resolver investir na solução deste problema.
Os entulhos, sobras de construção civil, geralmente
um enorme problema para os municípios, se em vez de cobrados para
despejar nos aterros já lotados e com a vida útil comprometida, fossem
isentos de pagamento se entregues numa usina de reciclagem de entulho,
poderiam ainda ajudar na construção de casas populares virando agregado
para a fabricação de tijolos ecológicos, feitos prensados, a frio.
Ao adotar políticas de compra sustentável dos
ingredientes da merenda escolar ou servida nos hospitais, por exemplo,
os governos poderiam incentivar a produção orgânica e local, oferecendo
produtos sem agrotóxico e com menor pegada carbônica e ainda incentivar a
produção e a fixação das famílias nas áreas rurais do município ou
imediações, evitando as migrações para as favelas urbanas.
São exemplos de que é perfeitamente possível mudar por que são mudanças que já estão ocorrendo em diversas cidades brasileiras.
Estamos vivendo numa época em que estas duas
economias estão convivendo, lado a lado, e os bons e os maus exemplos
disso estão por todos os cantos.
A divulgação dos bons exemplos ajuda a que a
sociedade cobre de seus governantes políticas de mudanças para a
sustentabilidade, assim como a divulgação dos excessos, dos maus
exemplos, ajudam a sociedade a exigir limites e multas cada vez mais
pesadas para aqueles que preferem a velha economia, intensiva no uso dos
recursos naturais, que não se importa com a pegada carbônica.
A sociedade pode ajudar a acelerar este processo
passando a acompanhar mais, através das redes sociais e da internet, o
trabalho de seus representantes políticos e interagir com os mandatos
deles, com sugestões e criticas.
As ONGs, do chamado Terceiro Setor, podem ajudar, por
exemplo, organizando debates públicos e fóruns permanentes de
acompanhamento de políticas para manter acesa a chama da mudança para a
sustentabilidade e da economia verde, convidando parlamentares,
promotores públicos e representantes do governo, exibindo vídeos com os
usos e abusos da economia suja sobre a sociedade e as possibilidades e
potenciais que a nova economia verde oferece.
E quanto mais a sociedade tiver acesso a informações
sobre a nova economia verde e sobre a sustentabilidade, melhores serão
suas escolhas, tanto de consumo quanto da pressão por políticas
publicas, e maior será a velocidade da mudança no rumo da
sustentabilidade.
* Vilmar Sidnei Demamam Berna é escritor e
jornalista, fundou a REBIA - Rede Brasileira de Informação Ambiental
(www.rebia.org.br ) e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio
Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente) e o Portal do Meio
Ambiente (
http://www.portaldomeioambiente.org.br/).
Vilmar Sidnei Demamam Berna Escritor e jornalista,
fundou a REBIA - Rede Brasileira de Informação Ambiental e edita deste
janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente