segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Karl Marx (1818-1883) - O Materialismo Dialético e Histórico

Marx fez uma crítica radical ao idealismo hegeliano, na qual afirma que Hegel inverte a relação entre o que é determinante – a realidade material – e o que é determinado – as representações e conceitos acerca dessa realidade. A filosofia idealista seria, assim, uma grande mistificação que pretende entender o mundo real, concreto, como manifestação de uma razão absoluta.
Marx procurou compreender a história real dos seres humanos em sociedade a partir das condições materiais nas quais eles vivem. Essa visão da história foi chamada de materialismo histórico. Para Marx não existe o indivíduo formado fora das relações sociais, como o querem Hegel, Feuerbach, Schopenhauer, Kierkegaard e outros tantos. Para ele “A essência humana é o conjunto das relações sociais”, o que significa que a forma como os indivíduos se comportam, agem, sentem, e pensam vincula-se à forma como se dão as relações sociais. Essas relações sociais, por seu lado, são determinadas pela forma de produção da vida material, ou seja, pela maneira como os seres humanos trabalham e produzem os meios necessários para a sustentação material das sociedades.
A forma como os homens produzem esses meios depende em primeiro lugar da natureza, isto é, dos meios de existência já elaborados e que lhes é necessário reproduzir;[1]
Ao falar da produção material da vida, Marx não se refere apenas à produção das inúmeras coisas necessárias à manutenção físicas dos indivíduos, considera o fato de que, ao produzirem todas essas coisas, os seres humanos constroem a si mesmos como indivíduos. Isso ocorre porque, “o modo de produção da vida material condiciona o processo geral de vida social, política e espiritual”[2]. Marx reconhece o trabalho como atividade fundamental do ser humano e analisa os fatores que o tornaram uma atividade massacrante e alienada no capitalismo. Marx pretende expor a lógica do modo de produção capitalista, em que a força de trabalho é transformada em uma mercadoria com dupla face: de um lado, é uma mercadoria como outra qualquer, paga pelo salário; de outro, é a única mercadoria que produz valor, ou seja, que reproduz o capital.
Marx também entende o desenvolvimento histórico-social como decorrente das transformações ocorridas no modo de produção. Nessa análise, ele se vale dos princípios da dialética, mas garante que seu “método dialético não só difere do hegeliano, mas é também sua antítese direta”[3]. Na concepção hegeliana, a dialética torna-se instrumento de legitimação da realidade existente. No pensamento de Marx, a dialética leva ao entendimento da possibilidade de negação dessa realidade “porque apreende cada forma existente no fluxo do movimento, portanto também com seu lado transitório”. Ou seja, a dialética em Marx permite compreender a história em seu movimento, em que cada etapa é vista não como algo estático e definitivo, mas como algo transitório, que pode ser transformado pela ação humana. De acordo com Marx, a história é feita pelos seres humanos, que interferem no processo histórico e podem, dessa forma, transformar a realidade social, sobretudo se alterarem seu modo de produção.
 
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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O Positivismo de Comte


O Positivismo de Comte é a corrente filosófica que promove e estrutura o último estágio de desenvolvimento que a humanidade teria atingido, de acordo com sua teoria. Comte usa o termo filosofia tal como Aristóteles, i.e., como definição do sistema geral de conhecimento humano. Descarta conhecimentos que não possam ser comprovados experimentalmente. Compreende não apenas uma teoria da ciência, mas também uma concepção de história e proposta de reforma da sociedade e da religião. Positivismo em sentido amplo designa teoria que exclua toda e qualquer negação e afirme apenas o idêntico.
O termo positivo é usado significando real, por oposição ao quimérico, o útil em oposição ao ocioso. Significa também o contrário de negativo e indica tendência de substituir o absoluto pelo relativo.
A Lei dos Três Estados è Comte afirma ter descoberto uma grande lei fundamental segundo a qual o espírito dos indivíduos (e da humanidade, e das ciências) atravessa um estado teológico (em que se acredita-se que fenômenos são obra de agentes sobrenaturais), um estado metafísico (em que agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstratas) e um estado positivo (em que se limita a expor fenômenos e suas inter-relações) . É somente no terceiro estado que se realiza o verdadeiro espírito científico ou positivo, que se atém à observação dos fatos, à racionalização sobre eles, e à busca de suas leis (suas relações invariáveis).
Comte afirma que o espírito positivo está tão afastado do empirismo (que é uma “estéril acumulação de fatos) quanto do misticismo. Somente existe ciência quando se conhecem os fenômenos por suas relações constantes de concomitância e sucessão (i.e., suas leis), acarretando possibilidade de previsão racional.
Comte afirma que o conhecimento é incompleto e relativo, em oposição às propostas metafísicas do absoluto.
Ciência é a forma de conhecimento que: (a) tem certeza sensível de observação sistemática e certeza metódica de acesso aos dados fenômenos estudados; (b) relaciona fenômenos a princípios; (c) busca relações de concomitância e sucessão entre fenômenos,i.e., busca suas leis. O fim da Filosofia é a organização das ciências.
Critérios de Classificação das Ciências è (a) ordem cronológica de seu aparecimento; (b) complexidade crescente de cada uma das ciências; (c) generalidade decrescente; (d) dependência mútua entre estudos científicos.
Ciências em Estado Positivo è Astronomia; Física; Química; Filosofia; Sociologia (Física Social).
Quanto mais simples é uma ciência, mais rápido entra no estado positivo.
Sociologia ou Física Social é a mais importante das ciências. Constitui o resumo e o coroamento das demais que a precedem. Significa o ponto de partida da moral, política e da religião.
Moral, Política e Religião Positivas: (a) estática social, estuda a harmonia das condições de existência e estabelece a ordem social; (b) dinâmica social, estuda o desenvolvimento ordenado da sociedade e estabelece as leis do progresso.
É com Ordem e Progresso que Comte procura superar as duas principais correntes políticas de seu tempo. A corrente conservadora argumentava que os problemas existentes na sociedade emanavam da destruição da ordem anterior (ordem medieval, aristocrática). A corrente progressista achava que os problemas eram originados pela não ruptura total com a ordem anterior. Comte afirma que sem ordem não há progresso, que é o desenvolvimento da própria ordem. Há complementaridade entre ordem e progresso, visando restaurar a unidade social. Idéia-chave “amor por princípio, ordem por base, progresso por fim”.
A Moral de Comte é geralmente conhecida por suas teses mais populares: altruísmo (viver para outrem), ou negação dos direitos em favor dos deveres, ou a crítica à liberdade de consciência. A moral deveria despertar nos súditos sentimentos de obediência e sujeição, e nos governantes, responsabilidade no exercício da autoridade. Os ricos deveriam administrar perfeitamente seus bens, e os pobres deveriam satisfazer-se com sua posição social. Nem a economia, nem a política poderiam ser vistas separadamente da moral.
Religião da Humanidade como Grande Ser consiste em ordenar cada natureza individual e religar todas as individualidades. Prega a comunhão de todos os homens no tempo e no espaço. Influenciada pelos sacramentos católico-romanos, com culto à mulher, centralização em Paris, formulação de novo calendário. O calendário positivista inclui dias santos para “louvar” pensadores como Descartes.
Heranças do Positivismo atualmente è desprezo pela metafísica; valorização do fato, da experiência e da prova; confiança sem reservas na ciência; forma “científica” aos estudos sociais; sociedade prevista e controlada em todos os níveis.
Correntes Positivistas è Ortodoxa é minoritária e adota a parte religiosa. Heterodoxa é a majoritária, adota apenas parte filosófico-política.
Positivismo no Brasil è participação na Proclamação da República (1889) e Constituição de 1891, mote “Ordem e Progresso” na bandeira. Separação da Igreja e do Estado, decreto de feriados, casamento civil, exercício das liberdades religiosa e profissional, fim do anonimato da imprensa, reforma educacional (proposta por Benjamin Constant).
Ponto Fraco da Teoria Científica de Comte è desconsidera procedimentos hipotéticos e dedutivos, portanto sua metodologia torna-se fraca.
Fontes :
O Positivismo de Comte, da Prof. Maria Célia Simon (Filosofia, Universidade Santa Úrsula).
Ordem e Progresso, do Prof. Rafael Augustus Sega.
Leia atentamente o conteúdo sobre o Positivismo de Augusto Comte e apresente sua compreensão fazendo um comentário de no minimo 10 linhas.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Lutero e as divisões do mundo

1. Em busca de uma história mais verdadeira
Há 500 anos, quando a Europa fundamentalista se lançava ao mar para conquistar novas terras, escravizando e exterminando povos indígenas e negros, muitas vozes se levantaram para denunciar o mau uso da religião. Mulheres e homens fizeram surgir, sob a ação do Espírito Santo, movimentos que ajudaram a recuperar o sonho do cristianismo primitivo.
Entre todas essas vozes, uma das que mais ecoaram foi a de um monge chamado Martinho Lutero. Com toda a sua fragilidade humana, com seus erros e acertos, Lutero conseguiu mostrar à Igreja de Cristo que estava na hora de "voltar a Jesus".
O papa Adriano VI, contemporâneo de Lutero, foi capaz de ler a ação do Espírito e assim escreveu a ele:
"Sabemos que, mesmo na Santa Sé, e desde muitos anos, muitas abominações foram cometidas (...). Faremos tudo para começar a reformar a corte de Roma, da qual veio todo o mal. É dela que sairá a cura, como dela veio a doença".
Infelizmente, o sucessor de Adriano IV não teve a mesma diplomacia. Lutero também foi se acirrando em suas posições e as rupturas se acentuaram. Disputas posteriores aumentaram as rivalidades, quase nunca permitindo, nem a católicos romanos nem a luteranos, registros históricos menos tendenciosos. Para a maioria dos romanos, Lutero transformou-se no semeador da discórdia, no culpado pelo surgimento de "outras igrejas não fundadas por Jesus Cristo". Para boa parte dos protestantes, Roma e seu poderio passaram a ser encarnação da besta do Apocalipse.
A inquisição condenou à morte Joana D'Arc, em nome da fé ela foi levada à fogueira. Mais tarde, a Igreja Romana reconheceu o seu erro e elevou Joana D'Arc à honra dos altares. No caso da Reforma, as feridas foram maiores, ainda não foi possível reconhecer todos os erros, de um lado ou de outro.
Algumas afirmações, entretanto, não podem continuar sendo repetidas. Não só por faltarem com a verdade, mas por não contribuírem para a construção da tão sonhada unidade.
2. Lutero dividiu a Igreja?
No ano de 450, sob o pretexto das discussões se Jesus tinha uma natureza (era só Deus) ou duas (a divina e a humana), houve a separação da Igreja Siriana. Em 1054, a Igreja de Constantinopla e a Igreja de Roma romperam as relações, excomungaram-se mutuamente, declarando-se inimigas. Uma chaga que até hoje não se curou. Isto para falar apenas das divisões maiores.
Cristãos e cristãs, de maneira geral, por desconhecimento histórico, continuam a repetir que Lutero foi o responsável pela divisão, sem reconhecer na verdade que, profeticamente, o que fez foi trazer à tona a divisão já existente. E ainda que acontecimentos posteriores viessem a provocar novas rupturas, é importante recuperar sua intenção inicial.
Lutero não falava em separar-se da Igreja de Cristo, mas em reformá-la. Daí o nome Reforma. Chegava aos seus ouvidos os mesmo apelos proféticos que trezentos anos antes, moveram Francisco de Assis: "Reconstrói a minha Igreja, que está em ruínas". E a reconstrução passa pela busca da unidade. É por isso que o próprio Lutero assim orava a Deus:
"Ó eterno e misericordioso Deus, Tu és do Deus da Paz, do amor e da unidade e não da discórdia e da confusão, que permites em teus justos julgamentos. Este mundo, ao se esquecer de Ti, tem se dividido e quebrado. Só Tu podes criar e sustentar a unidade.
(...) Concede, então, que voltemos à tua unidade e evitemos toda discórdia. E assim, sejamos de uma só vontade, um só conhecimento, uma só disposição e uma só compreensão sobre o fundamento de Jesus Cristo, nosso Senhor".
3. Lutero e a leitura da Bíblia
Também por desconhecimento, é costume ouvir, especialmente no mundo católico romano, a afirmação de que Lutero tirou sete livros da Bíblia. Isso não é verdade. Ao contrário, como grande teólogo que era, Lutero impulsionou um grande movimento de leitura e interpretação da Bíblia. A grande sede da Palavra de Deus foi diminuída não só pelas traduções que fez (o povo não sabia grego e hebraico e nem mesmo o latim), mas também pelos seus comentários exegéticos aos livros sagrados. É bom lembrar que a tradição romana proibia o manuseio da Bíblia para quem não fosse clérigo. Nem mesmo nos cursos de teologia incentiva-se o estudo da Palavra de Deus.
Lutero traduziu todos os livros, incluindo em sua edição também aqueles que não têm original em hebraico (chamados apócrifos em ambiente protestante ou deuterocanônicos no mundo católico). E não proibiu ninguém de utilizá-los.
Acontece que nem mesmo a Igreja de Roma tinha fechado a questão acerca do cânon, isso se dá apenas em Trento (1545-1577). Outros grupos reformados passarão a utilizar, como os judeus, apenas o cânon hebraico, mas isso não vem de Lutero. Dele, o que precisamos recuperar é o seu amor à Palavra de Deus.
4. Um bom conselho aos nossos governantes
Erasmo de Rotterdam, teólogo humanista muito admirado por Lutero, criticou fortemente o reformador quando este apoiou as atitudes dos príncipes alemães, que perseguiram com violência os movimentos camponeses que exigiam seus direitos. Ele estaria legitimando a opressão. Ora, o grande profeta da paz, Helder Câmara, apoiou o Golpe Militar de 1964, percebendo depois o seu erro. E ainda vemos hoje pastores e bispos apoiarem ações violentas contra os sem-terra.
Mas, se os príncipes alemães manipularam a intenção e o movimento de Lutero, é porque não ouviram sua própria voz. Certa vez, um príncipe pediu de Lutero alguns conselhos afim de que não agisse com tirania em relação a seu povo. A resposta de Lutero foi simples e, se fosse ouvida pelos governantes que se dizem donos do mundo, daria outros rumo a esse momento tão delicado de nossa história. Lutero lhe enviou como resposta um comentário ao Magnificat, com a seguinte introdução: "Se queres ser um bom governante, aprende da Virgem Maria. Ninguém como ela soube acreditar num Deus que derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes".
Façamos ecoar em nossos corações e em nossas relações o mesmo apelo! Só assim seremos capazes de reconstruir a unidade.


Edmilson Schinel