terça-feira, 2 de abril de 2013

O papel da linguagem no desenvolvimento da inteligência humana

É importante, nas relações humanas e sociais, refletir sobre o fundamental papel da linguagem para o desenvolvimento da inteligência. Pertence a linguagem a um sistema simbólico dos grupos humanos e certamente representa um salto qualitativo na evolução da espécie. Ela fornece os conceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. É por meio dela que as funções mentais superiores são socialmente formadas e culturalmente transmitidas.
A linguagem é a maior criação da inteligência humana, pois é uma forma de acessar o mundo e o pensamento, tornando possível compreender e apreender as características dos fatos e objetos da realidade. Nós, seres humanos, somos, ao mesmo tempo, falantes e linguagem, considerando a linguagem uma criação humana, uma instituição sócio-cultural, que nos faz seres sociais e culturais. E, tendo a linguagem uma função social, ela é, antes de tudo, comunicação, expressão e compreensão. Essa função comunicativa está estreitamente combinada com o pensamento. A comunicação é uma espécie de função básica, porque permite a interação social e, ao mesmo tempo, organiza o pensamento, aguça a inteligência, aprimora a forma e o modo de viver no mundo.
Para Vygotsky [psicólogo e educador russo], a aquisição da linguagem passa por três fases: a) A linguagem social, que tem a função de denominar e comunicar, e seria a primeira linguagem que surge; b) A linguagem egocêntrica, ou seja, a progressão da fala social para a fala interna, ou seja, o processamento de perguntas e respostas dentro de nós mesmos – o que estaria bem próximo ao pensamento, representa a transição da função comunicativa para a função intelectual; c) A linguagem interior, intimamente ligada ao pensamento, ao intelecto das pessoas. É nessa fase que a linguagem aprimora, aperfeiçoa a inteligência humana. 
Muitos estudiosos se debruçam, até hoje, para melhor compreender o fenômeno da linguagem. Mas a abordagem histórica desse estudo teve início no século XVIII e o grande impulso ocorreu no Século XIX, constituindo-se, ao longo dos anos, objeto de estudo de várias ciências, como por exemplo, a Psicologia, a Filosofia, a Lingüística, entre outras. Porém, a importância da linguagem aparece com maior ênfase no século XX, tanto que alguns autores consideram como sendo impossível pensar sobre algo sem pensar na linguagem, uma vez que desde então se evidencia a clara convicção de que a palavra linguagem é o espaço da expressividade do mundo. E no caso da Filosofia Contemporânea, volta-se, principalmente para a significação ou para o sentido das expressões lingüísticas, não priorizando, apenas, as questões relacionadas à consciência ou à razão ou, ainda, à essência das coisas.
A inteligência, para Piaget [psicólogo e filósofo suíço, conhecido pelo seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Afirmou que existe um processo de construção do conhecimento, e lançou a grande questão: "Como podemos conhecer?".], é o mecanismo de adaptação do organismo a uma situação nova e, como tal, implica a construção contínua de novas estruturas. Esta adaptação refere-se ao mundo exterior, como toda adaptação biológica. Desta forma, os indivíduos se desenvolvem, intelectualmente, a partir de exercícios e estímulos oferecidos pelo meio que os cercam. O que vale também dizer que a inteligência humana pode ser exercitada, buscando um aperfeiçoamento de potencialidades e a linguagem é o meio e o fim desse aperfeiçoamento, uma vez que a linguagem propicia o exercício contínuo e ininterrupto da mente humana.
Para Piaget, o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o comportamento é construído numa interação entre o meio e o indivíduo, tudo permeado pela linguagem. Esta teoria epistemológica (epistemo = conhecimento, e logia = estudo) é caracterizada como interacionista. A inteligência do indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto, está relacionada com a complexidade desta interação das pessoas com o meio. Em outras palavras, quanto mais complexa for esta interação, mais “inteligente” será a pessoa que utiliza a linguagem.
Conclui-se o artigo dizendo que a linguagem, de acordo com o neurobiólogo americano William Calvin, é "a característica definidora da inteligência humana". Assim, com o devido respeito à capacidade de comunicação dos golfinhos, chimpanzés, aves e abelhas, o Homo Sapiens é a única espécie existente com o poder da fala. Essa é a capacidade que nos separa dos outros animais, que nos torna humanos. O desenvolvimento da inteligência humana está intimamente ligado ao desenvolvimento da linguagem. Tudo que ela vivencia deve ser reproduzido nas formas de expressão verbal e não verbal. É importante que ela “interprete” o mundo que a cerca e que comunique esta “leitura” do mundo para as pessoas, no amplo sentido de existência, de viver em comunidade. 

                                                                                Luisa Galvão Lessa